terça-feira, 25 de novembro de 2008

CORPO A CORPO


Paulo Colina

a vida é uma horda bárbara

de sentimentos
as noites tentam desde o princípio
de tudo
a derrubada de estigmas primários

o cotidiano tem sempre á mão um repertório
de sambas e blues

o papel branco vive me jogando
desfios na cara

ser marginal todavia
só interessa á paixão

bastaria ao poema apenas a cor de minha pele?

GENEGRO*



Miriam Alves

Gemido de negro
Não é poema
é revolta

é xingamento

É abismar-se

Gemido de negro
é pedrada na fronte de quem espia e ri
É pau de guatambu no lombo de quem mandou dar

Gemido de negro
é acampamento de sem-terra no cerrado
É o punho que se fecha em black power

Gemido de negro
é insulto
é palavrão ecoado na senzala
É o motim a morte do capitão
Gemido de negro
é a (re)volta da nau para o Nilo

Gemido de negro...
Quem tá gemendo?





MAMA ÁFRICA



Chico César

Mama África(a minha mãe)
é mãe solteira
e tem de fazer mamadeira todo dia
além de trabalhar como empacotadeira
nas casa bahia

mama África tem tanto oque fazer
além de cuidar neném
além de fazer denguim
filhinho tem que entender
mama África vai e vem
mas não se afasta de você

quando a mama sai de casa
seus filhos se olodunzam
rola o maior jazz
mama tem calo nos pés
mama não quer brincar mais
filhinho dá um tempo
é tanto contratempo
np ritmo de vida de mama


Brasil Mulato


Martinho da Vila

Pretinha,procure uma branco
Porque é hora de completar a integração
Branquinha, namore um preto
Faça com ele a sua miscigenação
Neguinho, vá pra escola
Ame esta terra
Esqueça a guerra
E abrace o samba

Que será lindo o meu Brasil de amanhã
Mulato forte, pulso firme e mente sã

quero ver madame na escola de samba
samabando

Quero ver fratenidade
Todo mundo se ajudando
Não quero ninguém parado
Todo mundo trabalhando
Que ninguém vá a macumba fazer feitiçaria
Vá rezando minha gente a oração de todo dia
Mentalidade vai mudar de fato
O meu Brasil então será mulato

fonte:Antologia da poesia negra brasileira:O NEGRO EM VERSOS